terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

E porque me mentes?

Nunca, talvez, falar a verdade esteve tão tendência, felicitamo-nos de dizer as coisas "muito honestamente" e com uma "total sinceridade". Entre íntimas confissões e os que afirmam dizer em voz alta o que os outros pensam baixinho, aparecem personalidades "genuínas", "sinceras", "espontâneas"...blablabla....
Mas eu, minto-te porque é impossível falar toda a verdade, a natureza mesma da linguagem condena-me a não dizer tudo, as palavras nunca refletem toda a verdade, há sempre uma parte escondida, inacessível à palavra em si, explicar-me é mentir. Minto-te porque obriga-me a estar numa relação directa com a verdade, ora a verdade é subjectiva e afectiva, estamos sempre interpretando, a cada um a sua verdade, de uma forma instintiva, um reflexo, um acto de protecção por vezes, ou de complação. Cada verdade tem a sua contra-verdade. Minto-te porque me preocupo contigo, porque respeito-te, porque sou sincera. Existe sempre uma verdade essencial à mentira, esse afecto que sentimos pelo outro. 
"O contrário duma verdade não é um erro, mas uma verdade contrária", minto-te para não morrer.

2 comentários:

  1. Um desabafo fantástico, parabéns!
    Como eu te entendo:)))

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    Respostas
    1. Sandra, minha querida, a mentira tem sido muito injustiçada...;)

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